Essa moda de mudar as regras do jogo enquanto ele está rolando já deixou o Brasil com uma imagem horrorosa no exterior. É coisa de quem não honra contrato, de quem gosta de ganhar no tapetão, mas é pior ainda. Mesmo quando parece bom para o consumidor.
Essa recente redução de IPI, por exemplo. Chegou e fez os preços dos carros brasileiros caírem bastante. Mas e os importados? Houve aqueles que tiveram boa redução de valor, como os JAC, mas também houve quem não conseguisse dar um desconto expressivo. Caso da Kia, que aumentou o preço um dia antes de o IPI cair. Houve quem visse nisso uma malandragem da Kia, que já devia saber da redução. Aí ela teria aumentado o preço só para não ter de dar muito desconto. Cá entre nós, faz algum sentido?
Se uma redução de preços fosse possível, ainda mais quando diversas outras empresas reduzem preços em até 10%, que vantagem a Kia teria em manter seus preços iguais? Nenhuma. O que explica o caso são estoques e dólar em alta.
Todo importador com boas vendas, sem estoques, vai sofrer com a alta do dólar imediatamente. Tudo porque o preço dos automóveis subiu, de uma tacada, 17,4% em dólar. Foi isso que representou o aumento da cotação da moeda americana de R$ 1,70 para R$ 2,00. Diversos produtos da Kia estão com fila de espera por conta de a fábrica não conseguir atender os volumes de pedido do importador brasileiro. Mas não foi para falar da coreana que escrevi isso, mas sim para refletir sobre a redução do IPI.
Se, depois de aumentar o IPI dos importados o governo agora parece legal em reduzir o IPI também para eles, repense. E lembre-se do aumento do dólar. De um jeito ou de outro, você continuará com acesso mais difícil a modelos fabricados no exterior. Eles continuarão a não ser mais tão competitivos. E corremos, mais uma vez, o risco de ver os modelos nacionais oferecendo menos por mais. De ter alguma reserva de mercado. Enfim, de continuarmos a pagar muito mais por mobilidade do que em qualquer país do mundo. E de elevar o valor das remessas de lucros para o exterior. Pelo menos até termos uma fabricante verdadeiramente nacional, se é que isso, algum dia, vai acontecer.