Cada um tem aquilo que merece

O papel do jornalismo especializado em automóveis é apontar aos leitores o que os carros têm de bom e de ruim, deixando a eles a escolha do que é melhor para seus casos específicos. É a isso que todos deveriam se propor, mas o consumidor brasileiro tem a mania de não ser consumidor. É um torcedor, alguém que se apaixona por uma marca e continua com ela faça chuva ou faça sol, mesmo diante de evidências de que ele poderia receber mais em troca. Isso reforça a máxima de que cada um tem aquilo que merece. O exemplo mais recente disso é o Chevrolet Agile.






Escrevi sobre ele uma avaliação que foi bastante bem recebida por muitos leitores, mas que também foi questionada pelos fãs da GM, com acusações, sempre levianas, de que eu estaria beneficiando Fiat, Volkswagen ou Ford. Quem diz isso não leu minhas avaliações da Strada Cabine Dupla, do Gol e do Voyage com câmbio I-Motion e do Ford Focus Sedan. Se tivesse feito isso, notaria uma mesma linha de avaliação: chamar a atenção para o bom e para o ruim.

Ainda que o Chevrolet Agile seja uma renovação da linha GM, ele repete a receita de usar plataforma e motor antigos em um estilo não muito feliz, ainda que, como vantagem, tenha trazido um excelente pacote de itens de série, algo que outros modelos da marca não conseguiram. E isso só no Brasil, uma vez que a Opel, na Europa, tem produtos fantásticos. Basta comparar o Agile com o Corsa D, Vectra GT com o novo Astra e o Vectra com o Insignia para notar o prejuízo que o brasileiro leva. Pior: que leva feliz e defendendo a marca com argumentos como "o carro é lindo", "tem o melhor acabamento", "o melhor desempenho" e por aí afora. Sem conhecer o carro ou, conhecendo, sem o devido senso crítico. Por paixão.

O triste é que o brasileiro repete essa receita em tudo. Desce a lenha nos políticos que ele mesmo escolhe (e que continua a escolher). Reclama da criminalidade que ele mesmo alimenta (pela disparidade social e por comprar drogas e produtos piratas). Da insegurança no trânsito que ele mesmo causa (dirigindo sem atenção, com celular na orelha ou com a cabeça cheia de cachaça).

É por isso que continuamos a comprar VW Golf IV em vez do VI. Fiat Stilo em vez do Bravo. Renault Scénic de primeira geração. Citroën Xsara Picasso. Peugeot 207 em vez de 207 (o nosso 207 nada mais é do que um 206 melhorado, chamado na Europa de 206+). Está na hora de o consumidor brasileiro começar a desempenhar seu papel e fazer jus ao fato de o país ser o sexto maior mercado do mundo. E de pagar o dobro do que um europeu ou um norte-americano, teoricamente mais ricos, pagam por um automóvel. Enfim, como dissemos no começo, cada um tem aquilo que merece.

Para finalizar, na avaliação falamos do que o Agile prometia e do que acabou cumprindo. A promessa principal era o conceito GPix, um carro de estilo muito melhor do que o do Agile. E que continua servindo como referência ao Agile na página de imprensa da GM, como se vê abaixo.



Antes fosse...