"O nascimento da Vespa começou quando um amigo meu, presidente do Vespa Clube de Freamunde e dono de uma drogaria onde eu ia comprar materiais e derivados, perguntava-me quando é que eu começava a construir a próxima mota de madeira", disse Alberto ao MotorDicas. "Eu lhe respondia 'qualquer dia' e ele então dizia que a próxima tinha de ser uma Vespa."
Alberto fala em "outra mota" porque ele criou uma antes da Vespa Daniela, sobre a qual falaremos mais adiante. O foco, agora, é essa bela criação em madeiras tão diferentes quanto pau-rosa, ébano, faia, pau-cetim, jatobá, tacula, efizélia, pau-santo, sucupira e sicômoro.
"Devido à estrutura de uma Vespa com o quadro aberto, isso me levantou certas dificuldades, mas fui arranjando soluções, tempo e dinheiro. Estávamos já em 2004 e já tinha quase tudo pronto para começar, mas em setembro deste mesmo ano tive um acidente grave onde estive parado durante onze meses. Entretanto, voltei a começar o projeto a meio de 2007, começando a reunir novamente toda a informação devida para começar a construir a Vespa de madeira. Isto em outubro de 2007. Comecei por tirar algumas fotos de uma Vespa do modelo VN1 de 1951 do atual presidente do Vespa Clube Freamunde. Em novembro comecei a colar as primeiras peças da Vespa tendo a ajuda da minha esposa, Graça, e da minha filha. A apresentação da Vespa se realizou no dia 12 de julho de 2008, depois de cerca de dez meses", disse Alberto.
A mecânica da Vespa Daniela é uma das poucas coisas que não são de madeira na recriação, que é cerca de 20 kg mais pesada que uma Vespa VN1 original. Monocilíndrico, de dois tempos, o motor tem 123,67 cm³. Refrigerado a ar, ele tem 5cv a 4.850 rpm e é alimentado por um carburador Dell'Orto MA 19C. A ignição é por volante magnético I.E.S. Piaggio 36 W, com partida por pedal e transmissão direta, com três marchas.
Por incrível que pareça, nem o quadro nem as rodas são de aço. Tudo é de madeira. O quadro é monobloco auto-portante. Suspensão e freios, com tambores de 126 mm de diâmetro nas duas rodas, seguem o esquema do modelo original. O tanque é de 5 l e a Vespa pesa 107 kg. Com um entreeixos de 1,17 m (4 cm a mais que a Vespa VN1) e um comprimento de 1,72 m (6 cm a mais), a Vespa Daniela atinge 75 km/h.
As partes que mais deram trabalho a Alberto na construção foram a obtenção do motor original, a capa do farol, o guidão e todos os seus acessórios, inclusive o manete do acelerador, e a roda de trás, que tem de suportar muito dos 107 kg da Vespa.
O scooter de madeira inteiro é uma homenagem a pessoas queridas. "Daniela é o principal nome da Vespa, que vem de a minha filha se chamar Daniela e de ser a minha filha única, como a Vespa", disse Alberto.
A placa, ZP 2008, faz referência a diversas pessoas. O Z vem do amigo da drogaria, José Gomes, ou Zezé, morto em 2003 e grande inspirador da criação da Vespa. P é uma homenagem a Paulo Martins, outro amigo de Carlos Alberto, que também já faleceu. "Ele era sócio do Moto Clube de Paços de Ferreira e pertencia à comissão de inventos comigo. Este me deu muito apoio enquanto foi vivo." 2008, como se poderá imaginar, é devido ao ano em que a Vespa foi terminada.
A precursora da Vespa Daniela foi a Mota, construída em 2001 com a ajuda de dois amigos, Maximino Costa e Eugénio Cunha. "Tudo começou por uma reportagem de um carpinteiro italiano que construía bicicletas em madeira. Eu, ao ver a reportagem numa revista e trabalhando em madeira e gostando de desafios, pensei que também era capaz de fazer bicicletas em madeira. O tempo foi passando e, no ano de 2000, tornei-me sócio do Moto Clube de Paços de Ferreira. Estando ligado ao mundo das motas, pensei: 'Por que não fazer uma fazer uma mota em madeira?'."
O caminho não foi fácil. Carlos Alberto teve de aguentar muita gozação. "Um dia estava de cama com gripe e, sendo visitado por dois amigos, disse-lhes que ia construir uma mota de madeira. Eles responderam que eu devia estar a delirar. Depois de ter melhorado da gripe fui à sede do Moto Clube e falei a vários sócios do que estava a pensar fazer. Eles começaram a rir-se e a gozar, mas Maximino e Eugénio vieram ter comigo e aceitaram entrar no projeto. Este foi iniciado em fevereiro de 2001 e apresentado aos sócios e amigos já pronta no início de junho deste mesmo ano. Todos ficaram sem palavras, pois faziam sempre troça e gozavam, depois sempre que nos viam diziam: 'Aí vêm os homens da mota de pau'." Prova de que sonho, mesmo de madeira, tem toda a chance de virar realidade. Vejam abaixo as belas fotos da Mota.
Fonte: Carpintaria Carlos Alberto
