Riversimple quer transformar carros em serviço, como água, luz e telefone

Na semana retrasada nós trouxemos a vocês as primeiras informações sobre um carro que prometia conciliar coisas inconciliáveis segundo o comum dos pensamentos. Duas delas seriam pilhas a combustível e preços baixos. As outras seriam transporte pessoal e mobilidade. No primeiro caso, a presença de metais nobres nas pilhas as torna caras, um dos fatores que as afastam da produção em série e que vem limitando seu uso a uns poucos carros, como o Honda FCX Clarity. No segundo, o fato de as pessoas comprarem carros que levam cinco pessoas quando apenas uma, no máximo duas o utilizam regularmente lota as ruas e atravanca a circulação. O carro que pretende resolver essas questões se chama Riversimple Urban Car. E ele fará isso com uma fórmula aparentemente simples, mas na qual ninguém havia pensado até agora: transformar os automóveis em serviços, assim como internet, água, luz e telefone.



Apesar de ter sido revelado em 16 de junho, nós só conseguimos fotos do veículo muito recentemente, o que acabou atrasando esta reportagem. O RUC (Riversimple Urban Car) será uma carro bastante racional. Levará apenas duas pessoas e será todo feito de fibra de carbono, o que, além de deixar o carro leve (ele pesa cerca de 350 kg), também ajuda a tirar gás carbônico da atmosfera, minimizando o agravamento do efeito estufa. Não há dados sobre as dimensões do carrinho, mas o pulo do gato, no caso dele, é o uso de uma célula de combustível pequena, de 6 kW, o que permite deixar os custos baixos.

Além disso, ele tem freios regenerativos que recuperam até 50% da energia gasta nas frenagens (acima da média destes sistemas, que ficam em 10%) e ultracapacitores. São estes elementos que permitem ao carro acelerar de 0 a 56 km/h em 5,5 s sem exigir demais da pilha a combustível. A velocidade máxima é de 80 km/h e o RUC tem um motor em cada roda, como se diz há muito tempo que o futuro deve ser. Com estes sistemas, a economia de combustível, se se utilizasse gasolina, seria equivalente a 106,2 km/l. A autonomia seria de 320 km ou mais. Isso resolve a questão dos custos.

A questão da racionalidade vem com a proposta de transformar o carro de um bem durável, ainda que sujeito a depreciação, em um serviço. Como serviços têm de ser bem prestados, o veículo seria poupado de reestilizações, novos equipamentos e coisas do tipo. Cada RUC tem vida útil prevista de 20 anos. Assim como telefones celulares, haveria pacotes diferentes de serviços. Um deles seria o de um leasing por três anos, com pagamentos mensais de 200 libras esterlinas (cerca de R$ 650). Os custos incluiriam seguro e despesas com abastecimento.

Em outras palavras, a cada vez que um RUC for abastecido com hidrogênio, a conta vai para a Riversimple. Isso, segundo declarações de Hugo Spowers, responsável pelo projeto, fará a empresa sempre buscar modos de tornar o carro mais econômico ao longo de toda a sua vida.

Se ao final dos três anos o "contratante" do RUC não quiser mais ficar com o carrinho, ou quiser pegar um modelo diferente, basta que ele devolva o carro à Riversimple. Ele voltará ao mercado como um carro usado também por meio de leasing. Isso, além de tudo, também elimina a preocupação em vender o carro para comprar um novo.

A ideia da Riversimple, como se vê, é revolucionária, mas este é o tipo de revolução que não deve assustar ninguém, uma vez que ela beneficia a todos (menos os saudosistas). Em primeiro lugar, ela garante a liberdade de escolha de deslocamentos inerente a um automóvel. Em ônibus ou trens, o passageiro "pega carona" e vai onde estes meios o levarem, sem poder interferir no roteiro. Em segundo, ele é racional, uma vez que o carrinho tem apenas dois lugares e é leve, o que minimiza os gastos com combustível (mesmo hidrogênio, limpíssimo, tem um custo para ser produzido). Em outras palavras, ele ocupa pouco espaço nas ruas, gasta pouco e emite apenas água. Em terceiro, ele elimina as preocupações com venda de carro, manutenção (incluída nas prestações mensais) e desvalorização do veículo. O que a Riversimple quer vender é o que interessa à maior parte dos apaixonados por automóveis: a liberdade de ir onde der na telha.

Segundo Spowers, cinco protótipos serão construídos no fim do ano que vem. Depois dos testes iniciais, 50 carros serão fabricados até o final de 2011, passando às mãos de clientes comuns, em cidades britânicas, em 2012. Depois disso, ainda não se sabe que rumo a história tomará, mas estamos tentando falar com Spowers para trazer a vocês mais novidades.

A cobertura deste bolo é o fato de que o carro será desenvolvido com base em um "código aberto", como alguns softwares gratuitos, como o Linux. Trocando em miúdos, se alguém aqui no Brasil quiser desenvolver um veículo parecido, sobre as mesmas bases de utilização, ele não vai precisar pagar à Riversimple nenhum centavo.

De acordo com a empresa, isso ajudará a ideia a se disseminar pelo mundo sem a mesma estrutura que um fabricante tradicional teria de ter para conseguir o mesmo efeito. Essa pode ser a tendência para os próximos anos no mundo automotivo. Se a ideia pegar, ela tende a se tornar hegemônica. Basta lembrar de como era a telefonia quando era preciso comprar uma linha telefônica e no que ela se transformou hoje: um serviço acessível a todos, levando em conta o bem maior da comunicação. Pelo bem da mobilidade individual, fazemos votos de que Spowers tenha sucesso na empreitada.












Fonte: Riversimple