Prezados leitores,
Esse é o primeiro Natal do MotorDicas com vocês. Calhou de ser também o primeiro de um momento difícil da indústria automotiva. Um momento que, não fossem os problemas financeiros do mundo, seria igualmente de repensar o papel do automóvel no mundo. Isso porque, como eu já disse no post "Por que sou contra o Dia Mundial Sem Carros", o automóvel vem sendo ameaçado até mesmo em sua função mais elementar, a de meio de transporte.
Dizem que carro é poluente, que carro ocupa muito espaço, que carro prejudica a saúde etc. Puseram o coitado como o grande vilão dos problemas atuais. Só se esqueceram de dizer que veículos puxados a cavalo eram muito mais poluentes e ineficientes (a diferença é que os dejetos eram sólidos, ainda que também houvesse os gasosos), que carroça e cavalo ocupavam tanto espaço ou mais que os automóveis atuais, que eram inacessíveis à maioria da população e por aí afora.
Quando se critica o automóvel, o que se vê é, na maior parte das vezes, uma crítica também ao que ele tem de melhor: ser acessível. Qualquer um pode ter um carro, com quantias que beiram o irrisório (com carros que só se mexem por milagre, diga-se, mas ainda carros). É uma crítica social, contra o acesso de gente pobre a um meio de locomoção individual. E, cá entre nós, toda locomoção é individual, por mais que seja para um mesmo lugar. Mais que o tráfego ou que a poluição, o que incomoda é a multidão, como se as ruas tivessem se tornado um grande mercado popular.
Não nego que é ridículo ver um carro de 5 m de comprimento e motor V12 levando apenas seu motorista no meio do tráfego. Quem gosta de carro também detesta trânsito. Mesmo assim, a solução para o problema não é acabar com o automóvel, transformar ruas em parques e por aí afora. Nem criar ridículos programas de caronas, como o que algumas montadoras, com muita cara-de-pau, vêm fazendo.
Se uma montadora quer resolver o problema do trânsito, que crie carros pequenos e racionais, como a Mercedes-Benz fez com o smart fortwo, como Gordon Murray, o pai do automóvel mais fantástico da história, o McLaren F1, fará com o T.25 e como Renato Cesar Pompeu e Carlos Eduardo Momblanch da Motta farão com o Pompéo. Automóveis pequenos, para uma ou duas pessoas, que dinamizam o tráfego.
Pior que essa discussão demonizante e sem embasamento técnico é a tal da crise financeira. As coisas vinham andando bem por aqui. Nos EUA, as montadoras locais vinham apanhando pesado das japonesas por incompetência e por serem controladas por financistas, não por pessoas que realmente gostem de carro. Mas não foi nem a incompetência nem a ganância desse povo que causaram o estrago todo por lá (eles só ajudaram a piorar tudo). Foi falta de dinheiro para financiar os veículos, um problema eminentemente bancário.
E é aqui que vem o mais grave de tudo: a crise é notícia, também nos afetou (muitos créditos vinham de fora do país), mas ela vem sendo exageradamente explorada. Como a infestação de águas-vivas no litoral no início deste ano. Nenhum jornal, revista ou noticiário se atreveu a confessar o óbvio: era falta de notícia pura. Não havia sobre o que falar, pelo menos nada pior do que aquilo. E devíamos dar graças a Deus, mas de uma hora para outra as águas-vivas se tornaram perigosas como tubarões ou piranhas. Ninguém se atreveu a procurar notícias com um aspecto enriquecedor. Boas notícias, para variar um pouco.
Se Papai Noel existisse, e o MotorDicas pudesse pedir a ele três presentes, eles seriam: 1 - que a discussão em torno do automóvel fosse feita por quem entende o que ele representa, com vontade política para melhorar o trânsito, não para achar um culpado, qualquer que seja; 2 - que a imprensa percebesse o papel que exerce e se fixasse no positivo, ajudando a melhorar a situação, em vez de tornar um problema maior do que ele é; 3 - que os homens de boa vontade que gostam de carro se unissem para esclarecer, informar e tornar esse período de mudanças mais suave.
Como não podemos contar com o Bom Velhinho, garanto aos leitores do MotorDicas que faremos exatamente o que pedimos. Não só por coerência, mas porque acreditamos que 2009 pode ser um ano ainda melhor do que 2008. Basta ninguém atrapalhar.
No mais, amigos, fiquem com meus votos de um Natal muito bacana. Para aqueles que não comemoram a data, que a energia positiva que ela gera sirva para revigorar todo mundo, independentemente de crença. Afinal, o que o Aniversariante queria era o melhor para todo mundo. Sem exceções.
Um abraço a todos,
Gustavo