O medo do novo

"Bom dia! Gostaria de saber em que pé anda o mercado para o Fiat Punto, pois quero comprar um, mas estou com medo pois se trata de um carro novo no mercado. O que vocês acham? E como pode me ajudar nesta dúvida?

Caio Rogério Oliveira de Souza"



Como vai, Caio?

Seu medo é um medo infelizmente comum nos consumidores brasileiros. É ele, em boa medida, que faz com que o Brasil tenha modelos tão desatualizados quanto o Fiat Mille, a VW Kombi e o Chevrolet Classic. É isso, aliás, que mantém o chamado VW Gol G4 com vendas superiores às da nova geração, mesmo que o novo carro seja muito superior e não custe tanto a mais. Por mais que sejam bons carros, que cumpram, ainda hoje, o que se propõem a fazer, eles já saíram de linha há muito tempo em outros países.

Por favor, não se sinta criticado com isso. Chamo a atenção para esse aspecto justamente para que você e nossos outros leitores com o mesmo receio possam pesá-lo e perceber o quanto ele é nocivo, ainda que se justifique.

O comportamento do consumidor tem razões que vão além de sua escolha. Para começar, o carro, no Brasil, custa muito. Pagamos por um Honda Civic o dobro do que um norte-americano paga. Os volumes monstruosos de vendas de carros naquele país justificam apenas parte desse custo todo. Com isso, carros, no Brasil, ainda são mais do que carros. São investimentos, e ninguém quer perder dinheiro.

É aí que entra a preferência por carros mais antigos de mercado. Para começar, um carro, como uma pessoa, só fica velho se faz sucesso. Se vende pouco, ele morre antes de envelhecer. Com isso, as pessoas acabam escolhendo essa opção mais tradicional para ter certeza de conseguir vendê-la mais adiante.

O problema é que o mercado automotivo funciona de outro modo. O ciclo de vida de um produto, normalmente, é de seis anos. Quem escolhe um carro com cinco anos de mercado achando que ele vai ser fácil de vender acaba assistindo à retirada dele do mercado, com a consequente desvalorização que isso acarreta. Em vez de ser uma escolha segura, o veículo com mais tempo de mercado corre o risco de sair de linha de uma hora para outra.

É o que acontece, por exemplo, com um excelente concorrente do Fiat Punto, o VW Polo. Ele é um dos melhores carros do mercado nacional, atualmente, mas vai mudar na Europa agora em março, quando será apresentada a nova geração do carro, chamada de PQ25. Geração esta que virá ao Brasil. Assim, em vez do Punto, você poderia comprar o Polo, mas eu não o recomedaria (novo, pelo menos) justamente pela mudança iminente pela qual ele vai passar.

O fato de o Fiat Punto ser um projeto novo o favorece. Ele é, entre todos os seus concorrentes (Ford Fiesta, Chevrolet Corsa, VW Polo e Citroën C3), o que tem menos probabilidades de mudar no curto prazo.

Também é, no mercado, o terceiro mais vendido entre os compactos premium, mesmo sem uma versão com motor 1-litro. Em 2008, segundo a Fenabrave, ele vendeu 38.576 unidades e ficou em 16º lugar no mercado total de automóveis. Foi vencido por Ford Fiesta (10º - 8.827), que deve sair de linha em breve para dar espaço a sua nova geração, já lançada no exterior, e pelo Chevrolet Corsa (12º - 47.307), que dará lugar ao Projeto Viva, ainda que a Chevrolet o negue.

Com isso em vista, Caio, faça uma cotação de seguro e prefira a versão 1,4-litro do Punto, uma vez que a 1,8-litro deve dar lugar em breve à 1,9-litro, com motor do Linea em vez do motor GM que o equipa atualmente. O fato de o carro ser novo é um aliado seu, não um inimigo.

Um abraço, e boa compra,

Gustavo