"Olá, boa noite!
O e-mail ficou um pouco longo, mas vale a pena ler!
Estou enviando esta mensagem para demonstrar a minha profunda indignação com a conduta da Fiat e de seu revendedor, o grupo Sinal, que, ao que tudo indica, encontraram o negócio da China: vender sem prazo para entregar e sem o valor do carro pré-estabelecido.
No dia 19/04/09 me dirigi a um feirão promovido pela Fiat no estacionamento do Shopping Eldorado, atraída pela mídia feita por eles de uma grande promoção de vendas com IPI reduzido e descontos tentadores. Depois de muita conversa, me decidi a adquirir uma Strada Adventure Locker. Ela tinha teto solar, ABS, airbag, retrovisor elétrico, pintura metálica e preparação para som por R$ 46 mil.
Fui informada que, por causa desta lista de acessórios e do grande volume de vendas, o prazo de entrega seria de no máximo 60 dias, mas que provavelmente não passaria de 45 e que este prazo tão longo estava sendo dado para que não houvessem atrasos e que seria o prazo garantido por eles.
Estava receosa de fechar o negócio, pois o prazo estava muito apertado e praticamente coincidia com o do fim da redução do IPI, que será no fim do mês de junho. Também me preocupei por outro caso recente, ocorrido com o meu sogro no mesmo grupo Sinal (Pereira Barreto) na compra de um Fiat Linea, que teve a sua entrega atrasada em mais de 30 dias. O prazo dado foi de 30 dias e a entrega se deu após mais de 60 dias!
Insisti em cobrar o prazo e o vendedor que me atendeu, de nome Diogo, com o gerente que estava presente no momento do fechamento do negócio, me garantiram que o prazo não ultrapassaria os 60 dias estipulados. Então, com essa promessa, decidi comprar o carro. Dei o sinal pedido e ficou acertado que, para o pagamento do restante, seria dado o meu carro usado e mais R$ 21 mil à vista no ato da entrega.
Devido à experiência que tivemos com o caso do atraso na entrega do carro do meu sogro, decidi ligar no dia 15/05/09 para a concessionária para saber se eles já tinham alguma previsão da data de entrega ou de fabricação do meu carro. Para a minha surpresa, o mesmo vendedor que me atendeu me disse que a previsão de fabricação do meu carro estava constando para o dia 29/06/09, ou seja, exato um dia antes da revogação anunciada da redução do IPI. Com isso, não haveria tempo hábil para que em um dia este carro estivesse produzido, faturado e entregue aqui em São Paulo e o preço fixado na data da compra não valeria mais, tendo eu que arcar com a diferença no valor devido ao aumento de IPI, que eles nem sabem de quanto será.
Decidi então ir pessoalmente à concessionária no dia 16/05/09 para conversar com o vendedor e sua gerente de vendas. Fui informada de que no máximo na quarta-feira, dia 20/05/09, eu teria uma resposta definitiva para a minha situação e que eles não compreendiam o motivo de minha preocupação, pois eles ainda estavam dentro do prazo estipulado e que o carro poderia chegar antes, mesmo com a previsão da fábrica estipulada para o dia 30/06/09 (mostrada na tela do computador da gerente Valquiria - Sinal Alphaville), ou seja, fabricação para um dia antes do prazo final da redução do IPI e não mais dia 26/06/09 como tinha sido informada pelo telefone.
Na quarta feira como combinado, liguei para eles e obtive a informação de que o carro será fabricado no dia 20/06/09 (3º data diferente em três contatos...) e que não haveria nada mais a ser feito, ou seja, o carro, de acordo com a fábrica, será produzido um dia após a data de entrega prometida do carro e dez dias antes do final do mês!
Pergunto:
1- Como pode um comércio de qualquer tipo vender um produto sem data para entregar e preço fixado na data da compra?
2- Como pode uma indústria de renome internacional como a Fiat promover feirões com o apelo de redução de IPI e promoções se não tem a mínima condição de cumprir com os prazos e preços dados aos inúmeros consumidores pelos seus revendedores? Isso configura propaganda enganosa, má-fé ou descaso com o consumidor?
3- Como fica a minha situação, como a de outros tantos consumidores que compraram ou comprarão seus carros neste período de redução de IPI e não terão seus carros entregues antes do dia 30/06/09?
4- Como as fábricas continuam, impunemente, anunciando preços com IPI reduzido e iludindo os consumidores, já que não possuem a maioria dos carros para pronta entrega nem para entrega antes do final do mês de junho?
5- Estou errada em exigir que o meu carro seja entregue dentro do prazo combinado e pelo preço acertado? Ou terei que pagar o que for estipulado na data de entrega, sem hoje saber qual é esse valor?
Agora vivo um impasse, desfaço o negócio e fico sem o carro e sem a oportunidade de comprar um carro equivalente pelo mesmo preço, já que ninguém tem este carro para entregar com IPI reduzido; espero até o dia 20/06/09 para continuar cobrando mais um prazo dado por eles que não se cumpre e arrisco receber o carro no mês de julho com outro preço; ou recorro à Justiça para ter os meus direitos de consumidora preservados? Isso sem contar a expectativa gerada pela compra do meu primeiro carro 0 km totalmente frustrada por esse tipo de conduta adotada pela Fiat e seus revendedores.
Estariam as montadoras, no meu caso a Fiat, se aproveitando desta atual situação econômica para agir de má-fé com seus consumidores e com o governo, que decretou esta redução de IPI para aumentar a demanda por carros, que estava "deprimida"? Onde está a crise tão alardeada com demissões e diminuições de jornadas que levou o governo a tal medida? A procura está maior do que a oferta, existe fila de espera, mas porque as revendas continuam oferecendo carros com preços reduzidos e prazos anteriores a 30/06/09 sendo que não têm como cumprir?
Teriam eles redescoberto o negócio da China?
Atenciosamente,
Paula Belmonte"
Mil perdões pela demora, Paula. Sei que, quando a gente tem alguma questão deste tipo a resolver, toda espera angustia, mas não foi possível responder antes.
O caso da Paula é importante porque é o primeiro caso de reclamação que recebemos. Publicá-lo, portanto, servirá de ajuda tanto a ela, que tornará pública sua situação, quanto àqueles que estejam pensando em comprar um carro e possam passar pela mesma situação.
Em primeiro lugar, técnicas de venda usam um fator horroroso para o consumidor: ansiedade pela possibilidade de perder um bom negócio. É disso que se valem os estelionatários quando aplicam o conto do vigário: oferecem um carro mais barato vendido com "desconto de funcionário" ou qualquer outra desculpa idiota. Ansioso, o comprador deposita dinheiro na conta do cara sem nem ver o carro. Quando vai à fábrica buscar seu carro, vê que ele não existe. Cá entre nós: se você comprasse um carro com desconto, por que o venderia com o mesmo desconto, e não pelo valor de mercado do carro? Pois é...
Essa história do IPI, como já alertamos uma vez aqui, serve a isso. As vendas realmente caíram, no ápice da crise financeira mundial, mas voltaram a ganhar impulso (e não só por conta do IPI mais baixo). Com medo de perder o desconto, o consumidor corre com a decisão (e não raro faz bobagem). Os prazos de redução "emergencial do IPI, de três meses, se devem a essa técnica. Uma redução com propósitos sérios jamais seria de menos de um ano.
O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, faz esse jogo: ameaça cortar o IPI para estimular as vendas. Quando chega o fim do prazo, ele o estica. Nos bastidores, o que se diz é que o IPI não vai voltar de uma vez ao que era. Vai ser paulatinamente aumentado.
Como tudo no Brasil é imprevisível (e o povo é manso), pode ser que o IPI volte aos patamares anteriores ou até aumente, mas o que o consumidor tem de saber é que, para fazer um bom negócio, não são as condições que contam. O que realmente importa é ele saber que é ele que está no controle.
Para começar, nunca feche negócio sem ter todas as garantias por escrito. Nem que seja um bilhete do vendedor afirmando as condições da venda (com data e assinatura dele). Tudo pode servir de prova em um eventual processo. Isso porque, se o vendedor promete entregar um carro a você em determinado prazo, ele tem de cumprir, sob as penas da lei, como indenização, multa e tudo mais que couber. Só dê entrada, seja em dinheiro ou com o carro usado em pagamento, com documentos que comprovem as condições do negócio. Para poder cobrar depois.
Se tiver dinheiro para comprar à vista, não aceite prazos. Exija o carro para pronta entrega. Além das concessionárias, há lojas que dispõe de sistemas com estoques de carros no país inteiro. Em algum canto vai existir o carro do jeito que você quer pelo preço que você quiser pagar. Carro, você pode comprar qualquer um. Dinheiro, o vendedor vai querer o seu. Que ele o ganhe de uma forma justa, sem prejudicar você.
Se você tiver algo que comprove as promessas, Paula, não precisa desfazer o negócio. Pode cobrar, mesmo depois da data de revogação da redução de IPI, que o carro seja entregue a você pelo valor combinado. O concessionário que se vire para manter o compromisso que assumiu com você. Se houver acréscimo de preço, ele que tire uma parte da gorda margem de lucro que recebe para cumprir a promessa que lhe fez. Se o concessionário não a atender, nem discuta: acione o Procon. Se o Procon não resolver, ele encaminhará seu caso à Justiça já com um entendimento desfavorável à revenda. Pena a Justiça ser lenta, mas é causa ganha.
Se você não tiver os papéis, talvez seja mais prudente desfazer o negócio, mas se prepare para uma novela: receber de volta a entrada que você deu. Pode ser que a Sinal se destaque por ser ágil nisso, mas a regra é uma demora absurda nesse processo.
Espero que seu caso se resolva, mas que ele sirva de exemplo aos outros consumidores ávidos por fazer um bom negócio. Mais uma coisa: fuja de feirões. As mesmas condições oferecidas no local são válidas nas concessionárias participantes. Vá direto ao revendedor mais perto de você: sai mais barato e é mais cômodo. E lembre-se: daqui em diante, peça tudo por escrito.
Para todos aqueles interessados em uma consulta parecida com esta, gostaria de pedir que, antes de mandarem seus e-mails para ghruffo@motordicas.com.br, vocês não se esqueçam, primeiro, de buscar no site se não há consultas já respondidas que atendam a suas dúvidas.
Se não houver, não se esqueçam de me passar que tipo de uso fazem do carro, o que mais valorizam no veículo, quanto tempo pretendem ficar com ele, quantas pessoas vão transportar, em que tipo de terreno rodam (cidade, estrada, estrada de terra), se manutenção, desvalorização, seguro e consumo são fatores importantes, se querem um novo ou um usado e quanto pretendem gastar na compra.
Pode não parecer, mas perfeição não é absoluta. Para cada caso existe um modelo mais indicado. Também peço a paciência de vocês, já que o número de consultas cresceu muito e está difícil atender todo mundo.
Um abraço a todos,
Gustavo