"Olá, Gustavo, o seu blog foi um achado para me ajudar nesta cruel escolha de carro.
Tenho uma Citroën Picasso Exclusive 2002, com 46 mil km rodados, e estou muito satisfeita com o veículo, embora a assistência técnica da Citroën tenha deixado a desejar em muitas ocasiões.
Fiquei encantada com a Grand C4 Picasso, com as facilidades (ar-condicionado digital em quatro saidas independentes, design, painel...), mas não me senti um tanto segura ao dirigir. Estranhei demais a sensação dentro do carro, ao olhar no retrovisor e a traseira aparecer "bem longe". Fiquei um pouco confusa com todos os sensores (estacionamento, ré, dianteira...). Sei que tudo é uma questão de tempo, e logo posso me acostumar.
Gostei de dirigir o Mitsubishi Airtrek. Embora tenha saído de linha, achei um carro robusto, que oferece a sensação de que temos total controle do carro ao dirigir, mas não tem cinto de três pontas, ar digital, o porta-malas é muito raso...
Também tenho a opção do CR-V 4x2 da Honda, que muito me agrada pelo fato fato de ser um Honda, de não desvalorizar igual ao Citroën, mas peca um pouco no acabamento.
Utilizo o meu carro apenas para pequenos trajetos na cidade (crianças na escola, supermercado...) e quando viajamos (não muito frequentemente). Sinto falta de um carro para sete passageiros, pois uso uma assento de criança, restando apenas dois lugares, não muito confortáveis.
O que você sugere? Tenho muito receio de toda a tecnologia da Citroën. Às vezes aparece algum defeito e o orçamento é sempre a troca de um módulo, que também custa uma fortuna. É assim também com outras marcas? Como disse, adorei o Citroën Grand C4 Picasso, mas será que o excesso de recursos no carro pode se transformar em um armadilha para o motorista? Será que tem como colocar banco de couros sem atrapalhar o airbag?
Atenciosamente,
Flávia Vasconcellos"
Oi, Flávia, como vai você?
Fico feliz que você tenha encontrado o blog. Ele tem sido bem recomendado pelos leitores, mas é bom saber que os serviços de busca também estão direcionando gente em busca de ajuda para cá.
Vamos a suas opções, mas, primeiro, vamos a suas necessidades. Ao que parece, você quer um veículo espaçoso, que lhe ofereça controle e manutenção baixa. Nesse sentido, vale usar sua consulta para tentar derrubar um mito corrente entre as mulheres: o de que um utilitário oferece mais controle ou segurança.
Utilitários são veículos concebidos para rodar na terra. A utilidade deles é essa, mas isso acabou se subvertendo quando a Land Rover, ciente de que muitos de seus clientes não tinham dinheiro para ter um carro para o trabalho e outro para andar no asfalto, criou o Range Rover, que enfrentava trilhas de terra e também servia para ir assistir à ópera. Dois em um. Nasceu o utilitário esportivo.
A ideia era ter um veículo versátil, mas eles acabaram virando veículos "altinhos", que dão uma visão privilegiada do trânsito. Mas muitos nunca viram terra, seu ambiente natural.
Desse modo, quando você compra um veículo de quase duas toneladas, com suspensão alta e cheio de equipamentos que você nunca vai usar, não é só de desperdício que estamos falando, mas também de alguns problemas. A suspensão alta é ótima na terra, para evitar obstáculos, mas aumenta os riscos de capotamento. O controle, portanto, é ilusório. Carros menores e mais leves são mais fáceis de controlar.
O peso a mais também implica em consumo mais alto de combustível, sem nenhuma contrapartida em desempenho ou em conforto. Em acidentes, esse peso a mais também não se traduz em mais segurança, pelo contrário. A chance de ferir alguém gravemente é muito maior quando você tem um utilitário. Por fim, utilitários custam caro, tanto na compra quanto na manutenção (os pneus custam uma fortuna). É muito ponto negativo para alguém que nunca vai usar o utilitário para o que ele foi feito.
Assim sendo, vamos ao que você precisa: um veículo que lhe ofereça uma boa visão do trânsito, com manutenção baixa e espaço no banco de trás. Além do Citroën Grand C4 Picasso, de sete lugares, chegou ao mercado recentemente o modelo de cinco lugares, o C4 Picasso.
Como toda minivan, ela oferece uma posição de sentar alta, mas se destaca pela ótima dirigibilidade e pelo pára-brisa VisionSpace, que dá uma visibilidade invejável ao carro. Além disso, ela pode ser mais espaçosa do que a Xsara Picasso nos bancos de trás o que eliminaria a necessidade de sete lugares.
Com relação aos problemas que os Citroën apresentam, os importados da Europa, como as C4 Picasso, costumam apresentar menos defeitos do que os feitos aqui e na Argentina. A questão é que, se houver algum problema, as peças tendem a ser caras, já que são importadas em euros. Infelizmente os Citroën costumam apresentar mais defeitos do que veículos de outras marcas. A confiabilidade é uma questão que a marca precisa resolver com urgência. Por isso a desvalorização é tão alta.
E desista de bancos de couro: eles afetam, sim, o acionamento dos airbags laterais e a garantia do carro. Se você quer mesmo bancos de couro, que esquentam demais no calor e esfriam demais no inverno, além de rachar, se não forem bem cuidados, sua escolha terá de recair em outro veículo.
Se você não estiver com muita pressa (e não tenha; sua minivan está nova, para um carro 2002, pouquíssimo rodada), no meio do ano chegará ao mercado a versão de sete lugares do Nissan Livina, o Grand Livina.
O modelo de cinco lugares, que está à venda, já causou uma excelente impressão. Tem um preço bem competitivo, é espaçoso e pode ser o ideal para você, se você gostar dos bancos de trás. Se você ainda achar que precisa de mais espaço, a versão de sete lugares pode ser a pedida certa. É só esperar pelo lançamento.
Além destas opções de minivans, há ainda a Chevrolet Zafira, que eu não recomendo porque está em fim de linha, devendo ser substituída até 2010 por um modelo novo, e a Renault Grand Scénic, que saiu de linha recentemente na Europa.
Só vale fazer uma ressalva: qualquer veículo de sete lugares necessariamente será longo. Assim, sua sensação de falta de controle será a mesma em qualquer um deles.
Se você realmente quiser comprar um utilitário, as opções vão bem além dos que você cita, o Mitsubishi Airtrek e o Honda CR-V. Para começar, o Airtrek não é opção, como você mesma disse, porque já saiu de linha. Se quiser um Mitsubishi, fique com o Outlander, que é o sucessor do Airtrek.
O CR-V é um excelente utilitário e tem bom acabamento. O que você pode ter estranhado é a simplicidade, mas essa simplicidade é boa. Peça que não tem é peça que não quebra, como dizia João Conrado do Amaral Gurgel.
Entre as outras opções que você pode ter, eu recomendaria duas bem interessantes. Fiquemos, primeiro, com o Dodge Journey.
Ele pode ser uma boa pedida para você porque tem bancos de um tecido muito resistente e lavável, que elimina a necessidade de couro, sete lugares e um comportamento dinâmico excelente, próximo do de um automóvel. Também está em um preço muito bom: R$ 95,9 mil. Recomendo a você que vá dirigir um. Se precisar de porta-malas, cuidado: o Journey não tem cobertura. O que estiver ali vai ficar à vista de qualquer um.
A outra opção é o Nissan X-Trail, um dos melhores utilitários de seu segmento.
O preço é mais salgado, mas ele anda muito bem, tem um câmbio delicioso e oferece a posição de dirigir que você gosta. O motor também bebe pouco e a manutenção de veículos japoneses costuma ser baixíssima.
Se você precisar de mais alguma dica, por favor, me avise. Espero ter lhe ajudado a decidir.
Um abraço,
Gustavo